quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos


Marcos 7,24-30
Naquele tempo, Jesus foi para a região de Tiro e de Sídon. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse, mas não pôde passar despercebido, porque logo uma mulher que tinha uma filha possessa de um espírito maligno, ouvindo falar dele, veio lançar-se a seus pés. Era gentia, siro-fenícia de origem, e pedia-lhe que expulsasse da filha o demónio. Ele respondeu: Deixa que os filhos comam primeiro, pois não está bem tomar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos. Mas ela replicou: «Dizes bem, Senhor; mas até os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos. Jesus disse: «Em atenção a essa palavra, vai; o demónio saiu de tua filha. Ela voltou para casa e encontrou a menina recostada na cama. O demónio tinha-a deixado.



Comentário ao Evangelho do dia feito por São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia e depois bispo de Constantinopla, doutor da Igreja Homilias sobre o Evangelho de Mateus, nº 52, § 2

«Os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos»

Ao aproximar-se de Jesus, a Cananeia só diz estas palavras: «Tem piedade de mim» (Mt 15,22), e os seus gritos redobrados atraem um grande número de pessoas. Era um espectáculo comovente, ver uma mulher gritar com tanta emoção, uma mãe implorar pela sua filha, uma criança tão duramente maltratada. [...] Ela não diz: «tem piedade da minha filha», mas: «tem piedade de mim». «A minha filha não se apercebe do seu mal; eu, pelo contrário, experimento mil sofrimentos, fico doente de a ver naquele estado, fico quase louca de a ver assim.» [...]


Jesus responde-lhe: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel» (Mt 15,24). Que faz a Cananeia depois de ter escutado estas palavras? Vai-se embora em silêncio? Perde a coragem? Não! Insiste ainda mais. Não é isso que nós fazemos: quando não somos atendidos, retiramo-nos desencorajados, quando o que era preciso era insistir com mais ardor. Quem, na verdade, não ficaria desencorajado com a resposta de Jesus? O Seu silêncio seria suficiente para eliminar toda a esperança. [...] Mas esta mulher não perde a coragem, pelo contrário, aproxima-se mais e prostra-se
dizendo: «Socorre-me, Senhor (v. 25). [...] Se eu fosse um cãozinho nesta casa, já não seria uma estrangeira. Sei muito bem que a comida é necessária aos filhos [...], mas não se pode proibi-los de dar as migalhas aos cães. Não mas deves recusar [...], porque eu sou o cãozinho que não se pode mandar embora.»


E, como já previa a Sua resposta, Cristo demorou a satisfazer-lhe a prece. [...] As Suas respostas não se destinavam a fazer sofrer a mulher, mas a revelar esse tesouro escondido.