domingo, 26 de dezembro de 2010

Os que atentavam contra a vida do Menino


Mateus 2,13-15.19-23
Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho. Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.» Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel. Porém, tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Advertido em sonhos, retirou se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré; assim se cumpriu o que foi anunciado pelos profetas: Ele será chamado Nazareno.

Comentário ao Evangelho do dia feito por Santo Afonso Maria de Liguori (1696-1787), bispo e Doutor da Igreja Meditações sobre a Oitava da Epifania, n° 3 (a partir da trad. Noël, Éds. Saint-Paul 1993, p. 309)

«Os que atentavam contra a vida do Menino»

Um anjo apareceu em sonhos a São José, e avisou-o de que Herodes andava à
procura do Menino Jesus para Lhe tirar a vida: «Levanta-te, toma o Menino e Sua Mãe e foge para o Egipto.» Assim pois, ainda mal nasceu, já Jesus é perseguido de morte. [...] José obedece sem demora à voz do anjo, acordando sua santa esposa. Pega em algumas ferramentas que pudesse levar consigo, a fim de exercer a sua profissão no Egipto e de ter com que sustentar a família. Maria, por seu turno, reúne as roupas necessárias a seu divino Filho; e depois, aproximando-se do berço onde Ele repousava, ajoelha-se, beija os pés de seu querido Filho e, por entre lágrimas de ternura, diz-Lhe: «Meu Filho e meu Deus, que vieste ao mundo para salvar os homens; ainda mal nasceste e já os homens vêm à Tua procura para Te dar a morte!» Pega Nele e, continuando a chorar, os dois santos esposos fecham a porta e põem-se a caminho durante a noite. [...]Meu bem-amado Jesus, Tu és o Rei do Céu e vejo-Te errar como fugitivo sob a aparência de uma criança. Que procuras? Diz-me. A Tua pobreza e o Teu abaixamento emocionam-me de compaixão; mas aquilo que me aflige mais é a negra ingratidão com que Te vejo tratado por aqueles que vieste salvar. Tu choras, e também eu choro, por ter sido um daqueles que Te desprezaram e Te perseguiram; a partir de agora, porém, preferirei a Tua graça a todos os reinos do mundo.Perdoa-me todos os ultrajes que Te fiz; permite-me que, na viagem desta vida para a eternidade, Te leve no meu coração, a exemplo de Maria, que Te levou nos seus braços durante a fuga para o Egipto. Meu Redentor bem-amado, foram muitas as vezes em que Te expulsei da minha alma, mas tenho confiança, agora que voltaste a tomar conta dela. E suplico-Te que a prendas a ti pelas doces correntes do Teu amor.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O próprio Senhor vos dará um sinal:


Lucas 1,26-38
Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

Comentário ao Evangelho do dia feito por Bem-Aventurado Guerric de Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense Sermão 3 para a Anunciação, 2-4 (a partir da trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 6, p. 38)


«O próprio Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá»


«O Senhor mandou dizer de novo a Acaz: 'Pede ao Senhor teu Deus um sinal'. Acaz respondeu: 'Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor'.» (Is 7, 10-12) [...] Pois bem, a este sinal recusado [...] acolhemo-lo nós com uma fé ilimitada e um respeito pleno de amor. Reconhecemos que o Filho concebido pela Virgem é para nós, nas profundezas do inferno, sinal de perdão e de liberdade, e nas alturas dos céus sinal de esperança, de exultação e de glória para nós. [...] Doravante este sinal foi elevado pelo Senhor, primeiramente sobre o chão da cruz, e depois sobre o Seu trono real. [...]


Sim, é um sinal para nós esta mãe virgem que concebe e dá à luz: sinal de que este homem concebido e nascido é Deus. Este Filho que realiza obras divinas e suporta sofrimentos humanos é para nós o sinal, que levará Deus até aos homens pelos quais Ele foi concebido e nasceu, e pelos quais também sofreu.


E, de todas as enfermidades e desgraças humanas que este Deus Se dignou suportar por nós, a primeira no tempo, a maior no Seu abaixamento, parece-me ter sido sem dúvida que esta Majestade infinita tenha suportado ser concebida no seio de uma mulher e aí estar oculta durante nove meses. Onde esteve Ela tão completamente aniquilada como aqui? Quando é que A vimos despojar-Se até este ponto? Durante todo esse tempo, esta Sabedoria não diz nada, esta Potência não opera nada de visível, esta Majestade escondida não Se revela por nenhum sinal. Nem na cruz Cristo pareceu tão fraco. [...] No seio de Maria, pelo contrário, está como se não estivesse; o Todo-Poderoso está inoperante, como se nada pudesse; e o Verbo eterno escondeu-Se no silêncio.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Dar-Lhe-ás o nome de Jesus



Mateus 1,18-24
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente. Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa.




Comentário ao Evangelho do dia feito por São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja Homilias para a Vigília do Natal, 5; CCL 122, 32-36 (a partir da trad. de Delhougne, Les Pères commentent, p.19 rev.)



«Dar-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.»



O profeta Isaías diz: «Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há-de pôr-Lhe o nome de Emanuel» (7, 14). O nome do Salvador, «Deus connosco», dado pelo profeta, refere-se às duas naturezas da Sua pessoa única. Com efeito, Aquele que é Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, é também o Emanuel do fim dos tempos, quer dizer «Deus connosco». Tornou-Se assim no seio de Sua Mãe, porque Se dignou aceitar a fragilidade da nossa natureza na unidade da Sua pessoa quando «o Verbo se fez carne e habitou entre nós» (Jo 1, 14). Quer dizer que começou de uma forma admirável a ser o que nós somos, sem deixar de ser Quem era, assumindo a nossa natureza, de forma a não perder o que era em Si mesmo. [...]


«Maria e teve o seu filho primogénito [...] e deram-lhe o nome de Jesus» (Lc 2, 7.21). Portanto, Jesus é o nome do Filho nascido da Virgem, nome que indica, segundo a explicação do anjo, que Ele salvará o povo dos seus pecados. [...] Será Ele que, evidentemente, salvará também da destruição da alma e do corpo os seguidores do pecado. Quanto ao nome «Cristo», é título de uma dignidade sacerdotal e real. Porque, sob a antiga Lei, os sacerdotes e os reis eram chamados cristos, devido à crismação. Essa unção com óleo santo prefigurava o Cristo que, vindo ao mundo como verdadeiro Rei e Sacerdote, foi consagrado: «Deus ungiu-O com o óleo da alegria, preferindo-O aos Seus companheiros» [cf. Sl 44 (45), 8]. Por causa dessa unção ou crismação, Cristo em pessoa e aqueles que participam da mesma unção – quer dizer, da graça espiritual – são chamados «cristãos». Pelo facto de ser o Salvador, Cristo pode-nos salvar dos nossos pecados; pelo facto de ser Sacerdote, pode reconciliar-nos com Deus Pai; pelo facto de ser Rei, digna-Se dar-nos o Reino eterno de Seu Pai.


sábado, 18 de dezembro de 2010

«Maria, Sua mãe, estava desposada com José»



Mateus 1,18-24
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente. Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa.

Comentário ao Evangelho do dia feito por
São Pedro Crisólogo (c. 406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja Sermão 146, sobre Mt 1, 18; PL 52, 591 (a partir da trad. coll. Icthus, vol. 12, p. 295 rev.)


«Maria, Sua mãe, estava desposada com José»

«Maria, Sua mãe, estava noiva.» Teria sido suficiente dizer: Maria estava noiva. Que significa uma mãe noiva? Se é mãe, não está noiva; se está noiva, ainda não foi mãe. «Maria, Sua mãe, estava noiva»: noiva pela virgindade, Mãe pela fecundidade. Era uma Mãe que não conhecera homem e que, no entanto, conheceu a maternidade. Como não seria mãe antes de ter concebido, Ela que, após o nascimento, é virgem e mãe? Quando é que não foi mãe aquela que gerou o fundador dos tempos, Aquele que deu um começo às coisas? [...]


Porque se destina o mistério da inocência celeste a uma noiva e não a uma virgem ainda livre? Porque tem o ciúme de um noivo de pôr a noiva em perigo? Porque será que tanta virtude parece pecado e a salvação eterna um risco? [...] Que mistério se encontra aqui, meus irmãos? Não há um traço, uma letra, uma sílaba, uma personagem do Evangelho que esteja vazio de sentido divino. É escolhida uma noiva para ser já designada a Igreja, noiva de Cristo, segundo as palavras do profeta Oseias: «Então te desposarei conforme a justiça e o direito, com misericórdia e amor. Desposar-te-ei com fidelidade» (2, 21-22). É por isso que João diz: «Aquele que tem a esposa é o Esposo» (Jo 3,29). E São Paulo: «Por vos ter desposado com um único esposo, como virgem pura oferecida a Cristo» (2Cor 11, 2). Oh verdadeira esposa, a Igreja, que pelo nascimento virginal [do baptismo], gera uma nova infância de Cristo!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Que fostes ver ao deserto? - Charles de Foucauld

Lucas 7,24-30
Depois de os mensageiros de João se terem retirado, Jesus começou a dizer à multidão acerca dele: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas finas? Os que usam trajes sumptuosos vivem regaladamente e estão nos palácios dos reis. Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais do que um profeta. É aquele de quem está escrito: 'Vou mandar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de ti.' Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele.» E todo o povo que o escutou, bem como os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o batismo de João. Mas, não se deixando batizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito.


Comentário ao Evangelho do dia feito por Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara Carta ao Padre Jerónimo de 19 de Maio 1898


«Que fostes ver ao deserto?»


É preciso p
assar pelo deserto e aí permanecer para receber a graça de Deus; é lá que nos esvaziamos, que extraímos de nós tudo o que não é de Deus e que esvaziamos completamente esta pequena casa da nossa alma para deixar todo o espaço apenas para Deus. Os judeus passaram pelo deserto, Moisés viveu lá antes de receber a sua missão, São Paulo e São João Crisóstomo prepararam-se no deserto. [...] É um tempo de graça, é um período pelo qual toda a alma que quer produzir frutos tem necessariamente de passar. Ela precisa deste silêncio, deste recolhimento, deste esquecimento de todo o criado, no meio dos quais Deus estabelece o Seu reino e forma nela o espírito interior: a vida íntima com Deus, a conversa da alma com Deus na fé, na esperança e na caridade. Mais tarde, a alma produzirá frutos exactamente na medida em que o homem interior se tiver formado nela (Ef 3, 16). [...]


Não se dá o que se não tem e é na solidão, nesta vida apenas e só com Deus, neste recolhimento profundo da alma que esquece tudo para viver exclusivamente em união com Deus, que Deus Se dá inteiramente àquele que se dá assim a Ele. Dai-vos inteiramente somente a Ele [...] e Ele Se dará inteiramente a vós. [...] Vede São Paulo, São Bento, São Patrício, São Gregório Magno e tantos outros, quão longos tempos de recolhimento e de silêncio! Subi mais acima: olhai para São João Baptista, olhai para Nosso Senhor. Nosso Senhor não tinha necessidade disso, mas quis dar-nos o exemplo.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A vida cristã exige intimidade com Jesus

Propõe o exemplo da mística italiana Verônica Juliani

A vida cristã precisa descobrir a união íntima com Jesus e com a Igreja, até o ponto do total abandono na vontade de Deus, disse hoje o Papa Bento XVI, na audiência geral.

O Papa quis fazer uma pausa em sua série dedicada a escritoras místicas medievais, falando em sua catequese de hoje de uma santa moderna, Verônica Juliani, pois se celebrarão, em 27 de dezembro, os 350 anos de seu nascimento.

De fato, entre os peregrinos presentes da Sala Paulo VI, havia uma nutrida representação da diocese de Città di Castello - o lugar sagrado onde a santa morreu - , liderada pelo bispo, Dom Domenico Cancian.

Esta santa, nascida no coração da Itália (1660-1727), entre as regiões das Marcas e Umbria, é conhecida por suas profundas experiências místicas relacionadas à Paixão de Cristo.

Após perder sua mãe muito cedo, entrou na ordem das clarissas capuchinhas. Ao emitir sua profissão solene, "começou para ela o caminho de configuração com Cristo, através de muitas penitências, grandes sofrimentos e experiências místicas relacionadas à Paixão de Jesus".

Verônica, afirmou o Papa, "se revela, em particular, como uma corajosa testemunha da beleza e do poder do amor divino, que a atrai, impregna, inflama. É o Amor crucificado que foi impresso na sua carne, como na de São Francisco de Assis, com os estigmas de Jesus".

A santa, que escreveu um "Diário", por obediência (cerca de 22 mil páginas), relatando suas experiências, recolheu nele "uma espiritualidade marcadamente cristológico-esponsal", a experiência "de ser amada por Cristo, Esposo fiel e sincero, e de querer corresponder com um amor cada vez mais envolvido e apaixonado".

"Nela, tudo é interpretado a partir do prisma do amor, e isso lhe infunde uma profunda serenidade. Tudo é vivido em união com Cristo, por amor a Ele e com alegria de poder demonstrar-lhe todo o amor de que uma criatura é capaz", afirmou o Papa.

Esta santa, acrescentou, convida a "crescer em nossa vida cristã, na união com o Senhor, no viver para os demais, abandonando-nos à sua vontade com confiança total e completa, e na união com a Igreja, a Esposa de Cristo".

"Convida-nos a participar do amor sofredor de Jesus Crucificado para a salvação de todos os pecadores; convida-nos a ter o olhar fixo no Paraíso, meta da nossa jornada terrena", assim como a "alimentar-nos diariamente com a Palavra de Deus para acender nossos corações e guiar nossas vidas."

Verônica Juliani também viveu intensamente a comunhão dos santos, disse o Papa, na oração, no sofrimento e na entrega aos demais. Também na liturgia, porque "os momentos fortes da experiência mística de Verônica nunca estão separados dos acontecimentos salvíficos celebrados na liturgia".

"Ela não apenas se expressa com as palavras da Sagrada Escritura, mas realmente vive também dessas palavras, que se tornam vida nela."


(ZENIT.org)

Os cegos vêem, os coxos andam


Lucas 7,18-23
Os discípulos de João informaram-no de todos estes factos. Chamando dois deles, João mandou-os ao Senhor com esta mensagem: «És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?» Ao chegarem junto dele, os homens disseram: «João Batista mandou-nos ter contigo para te perguntar: 'És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?'» Nessa altura, Jesus curava a muitos das suas doenças, padecimentos e espíritos malignos e concedia vista a muitos cegos. Tomando a palavra, disse aos enviados: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, a Boa-Nova é anunciada aos pobres; e feliz de quem não tiver em mim ocasião de queda.»


Comentário ao Evangelho do dia feito por Santo Hilário (c. 315-367), Bispo de Poitiers e Doutor da Igreja Comentário ao Evangelho de São Mateus, 11, 3 (a partir da trad. SC 254, p. 255 rev.)


Feliz de quem não tiver em Mim ocasião de queda»


Ao ver os discípulos dirigirem-se a Jesus, João ficou preocupado com a ignorância deles, não com a sua, pois ele tinha proclamado que Alguém viria para a remissão dos pecados. Mas para lhes dar a conhecer que não tinha proclamado outro senão Aquele, enviou os discípulos a observar as Suas obras, para que estas dessem autoridade ao seu anúncio e que nenhum outro Cristo fosse esperado para além d'Aquele a Quem as suas obras tinham testemunhado.


E, como o Senhor Se tinha revelado completamente pelas Suas acções miraculosas, dando a vista aos cegos, a marcha aos coxos, a cura aos leprosos, a audição aos surdos, a palavra aos mudos, a vida aos mortos, a instrução aos pobres, Ele disse: «Feliz de quem não tiver em Mim ocasião de queda». Será que, da parte de Cristo, terá jamais havido algum acto que possa ter escandalizado João? Seguramente que não. Ele permanecia realmente na sua própria linha de ensinamento e acção. Mas é preciso estudar o conteúdo e o carácter específico do que o Senhor diz: que a Boa Nova é recebida pelos pobres. Trata-se daqueles que perderam a vida, que tomaram a sua cruz para O seguirem (Lc 14, 27), que se tornaram humildes de coração e para os quais o Reino dos Céus já está preparado (Mt 11, 29; 25, 34). Porque o conjunto destes sofrimentos convergia para o Senhor e a Sua cruz ia ser um escândalo para um grande número, Ele declarou bem-aventurados aqueles cuja fé não sofresse nenhuma tentação causada pela Sua cruz, pela Sua morte e pela Sua sepultura.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Hoje é dia de São João da Cruz

JohnCross.jpg

São João da Cruz nasceu em 1542, provavelmente no dia 24 de Junho, em Fontiveros, província da cidade de Ávila, em Espanha. Os seus pais chamavam-se Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se casado com uma jovem de classe “inferior”, foi deserdado por seus pais e tornou-se tecelão de seda. Em 1548, a família muda-se para Arévalo. Em 1551 transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado do diretor do Hospital de Medina del Campo. Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas. Ingressou na Ordem do Carmo aos vinte e um anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo. Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre 1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca. Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa.

No entanto, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os Conventos Carmelitas. Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado. Em Setembro de 1567 encontra-se com Santa Teresa de Ávila, que lhe fala sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos padres, surgindo posteriormente os carmelitas descalços. O jovem de apenas vinte e cinco anos de idade aceitou o desafio. Trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de Novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia, inicia a Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo fundador maus tratos físicos e difamações. Em 1577 foi preso por oito meses no cárcere de Toledo. Nessas trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual. "Padecer e depois morrer" era o lema do autor da "Noite Escura da alma", da "Subida do monte Carmelo", do "Cântico Espiritual" e da "Chama de amor viva".

Pensamentos

Que mais queres, ó alma, e que mais buscas fora de ti, se encontras em teu próprio ser a riqueza, a satisfação, a fartura e o reino, que é teu Amado a quem procuras e desejas?

Em teu recolhimento interior, regozija-te com ele, pois ele está muito perto de ti.

A alma que verdadeiramente ama a Deus não deixa de fazer o que pode para achar o Filho de Deus, seu Amado. Mesmo depois de haver empregado todos os esforços, não se contenta e julga não ter feito nada.

Ó Senhor, Deus meu! Quem te buscará com amor tão puro e singelo que deixe de te encontrar, conforme o desejo de sua vontade, se és tu o primeiro a mostrar-te e a sair ao encontro daqueles que te desejam?

A alma que busca a Deus e permanece em seus desejos e comodismo, busca-o de noite, e, portanto, não o encontrará. Mas quem o busca através das obras e exercícios da virtude, deixando de lado seus gostos e prazeres, certamente o encontrará, pois o busca de dia.


Para chegares a saborear tudo,

não queiras ter gosto em coisa alguma.

Para chegares a possuir tudo,

não queiras possuir coisa alguma.

Para chegares a ser tudo,

não queiras ser coisa alguma.

Para chegares a saber tudo,

não queiras saber coisa alguma.

Para chegares ao que não gostas,

hás de ir por onde não gostas.

Para chegares ao que não sabes,

hás de ir por onde não sabes.

Para vires ao que não possuis,

hás de ir por onde não possuis.

Para chegares ao que não és,

hás de ir por onde não és.


Modo de não impedir o tudo:

Quando reparas em alguma coisa,

deixas de arrojar-te ao tudo.

Porque para vir de todo ao tudo,

hás de negar-te de todo em tudo.

E quando vieres a tudo ter,

hás de tê-lo sem nada querer.

Porque se queres ter alguma coisa em tudo,

não tens puramente em Deus teu tesouro.


Noite escura

Em uma Noite escura, com ânsias em amores inflamada, ó ditosa ventura!, saí sem ser notada. estando minha casa sossegada.

A ocultas, e segura, pela secreta escada, disfarçada, ó ditosa ventura!, a ocultas, embuçada, estando minha casa sossegada.

Em uma Noite ditosa, tão em segredo que ninguém me via, nem eu nenhuma cousa, sem outra luz e guia senão aquela que em meu seio ardia. Só ela me guiava, mais certa do que a luz do meio-dia, adonde me esperava quem eu mui bem sabia, em parte onde ninguém aparecia.

Ó Noite que guiaste!, ó Noite amável mais do que a alvorada!, ó Noite que juntaste Amado com amada, amada nesse Amado transformada!

No meu peito florido, que inteiro para ele se guardava, quedou adormecido do prazer que eu lhe dava, e a brisa no alto cedro suspirava.

Da torre a brisa amena, quando eu a seus cabelos revolvia, com fina mão serena a meu colo feria, e todos meus sentidos suspendia.

Quedei-me e me olvidei, e o rosto reclinei sobre o do Amado: tudo cessou, me dei, deixando meu cuidado por entre as açucenas olvidado.


Fazer a vontade ao Pai

Mateus 21,28-32
«Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: 'Filho, vai hoje trabalhar na vinha.’ Mas ele respondeu: 'Não quero.’ Mais tarde, porém, arrependeu-se e foi. Dirigindo-se ao segundo, falou-lhe do mesmo modo e ele respondeu: 'Vou sim, senhor.’ Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?» Responderam eles: «O primeiro.» Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder vos no Reino de Deus. João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os cobradores de impostos e as meretrizes acreditaram nele. E vós, nem depois de verdes isto, vos arrependestes para acreditar nele.»


Comentário ao Evangelho do dia feito por Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense Sermão 1 sobre São João Baptista, § 2 (a partir da trad. Brésard, 2000 ans C, p. 284)

João deu testemunho da verdade. [...] Ele era uma lâmpada que ardia e brilhava (Jo 5, 33-35)


Esta lamparina destinada a iluminar o mundo traz-me uma alegria nova, pois foi graças a ela que reconheci a verdadeira Luz que brilha nas trevas, mas que as trevas não receberam (Jo 1, 5). [...] Podemos admirar-te, João, a ti que és o maior de todos os santos; mas imitar a tua santidade, disso já não somos capazes. Dado que te apressas a preparar para o Senhor um povo perfeito de publicanos e pecadores, é urgente que lhes fales, não tanto através da tua vida, mas com uma linguagem mais ao seu alcance. Propõe-lhes um modelo de perfeição que não seja tanto segundo a tua maneira de viver, mas que esteja adaptado à fraqueza das forças humanas.«Produzi dignos frutos de penitência» (Mt 3, 8), exorta ele. Ora nós, irmãos, gloriamo-nos de falar melhor do que vivemos. Quanto a João, cuja vida é de uma sublimidade que os homens não podem compreender, coloca a sua linguagem ao alcance da inteligência destes: «Fazei dignos frutos de penitência!» «Falo-vos de maneira humana, em razão da fraqueza da carne. Se ainda não conseguis fazer o bem em plenitude, que se encontre em vós, ao menos, um arrependimento verdadeiro daquilo que está mal. Se não podeis ainda produzir os frutos de uma justiça perfeita, que a vossa perfeição consista para já em produzir dignos frutos de penitência.»


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

SABEDORIA DE JESUS


Mateus 21,23-27
Em seguida, entrou no templo. Quando estava a ensinar, foram ter com Ele os sumos sacerdotes e os anciãos do povo e disseram-lhe: «Com que autoridade fazes isto? E quem te deu tal poder?» Jesus respondeu-lhes: «Também Eu vou fazer vos uma pergunta. Se me responderdes, digo-vos com que autoridade faço isto. De onde provinha o batismo de João: do Céu ou dos homens?» Mas eles começaram a pensar entre si: «Se respondermos: 'Do Céu’, vai dizer-nos: 'Porque não lhe destes crédito?’ E, se respondermos: 'Dos homens’, ficamos com receio da multidão, pois todos têm João por um profeta.» E responderam a Jesus: «Não sabemos.» Disse-lhes Ele, por seu turno: «Também Eu vos não digo com que autoridade faço isto.»

Comentário ao Evangelho do dia feito por Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (norte de África) e Doutor da Igreja Sermão 288 (a partir da trad. de Thèmes et figures, DDB 1984, coll. Pères dans la foi 28-29, p. 303)



«Veio Jesus ter com João para ser batizado por ele [...]. João opunha-se, dizendo: 'Eu é que tenho necessidade de ser batizado por Ti!'» (Mt 3, 13-14)



«Muitos profetas e justos desejaram ver o que estais a ver, e não viram» (Mt 13, 17). Estas santas personagens, com efeito, cheios do Espírito de Deus para anunciar a vinda de Cristo, desejavam com ardor gozar da Sua presença sobre a terra, se assim fosse possível. Foi por essa razão que Deus adiou a partida de Simeão deste mundo; queria que ele pudesse contemplar, na pessoa de uma criança recém-nascida, Aquele por Quem o mundo foi criado (Lc 2, 25 ss.). [...] Simeão viu-O com feições de menino; João, ao contrário, viu-O quando Ele já ensinava e escolhia os Seus discípulos. Onde? Nas margens do rio Jordão. [...]


É aí, neste baptismo de preparação que Lhe abria caminho, que encontramos um símbolo e uma aproximação do baptismo de Jesus Cristo: «preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas» (Mt 3, 3). O próprio Senhor quis ser baptizado pelo Seu servo para fazer compreender a graça que recebem àqueles que recebem o baptismo em nome do Senhor. Foi aí que começou o Seu reino, como que a cumprir a profecia: «dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra» (Sl 72 (71), 8). Nas margens do rio onde o domínio de Cristo começa viu João o Salvador: viu-O, reconheceu-O e prestou-Lhe testemunho. João humilhou-se perante a grandeza divina a fim de merecer que a sua humildade fosse ressalvada pela mesma grandeza. Declara-se o amigo do esposo (Jo 3, 29). Que amigo? Aquele quecaminha em pé de igualdade? Longe disso! Qual é a distância que ele guarda? Diz ele: «não sou digno de me inclinar para Lhe desatar as correias das sandálias» (Mc 1, 7).

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Bento XVI: Imaculada, fonte de conforto


Intervenção por ocasião do Ângelus

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 8 de dezembro de 2010 - Apresentamos a intervenção de Bento XVI nesta quarta-feira, solenidade da Imaculada Conceição, antes de rezar o Ângelus ao meio-dia, com milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.

* * *

Queridos irmãos e irmãs:

Hoje, nosso encontro, por ocasião da oração do Ângelus, adquire uma luz especial no contexto da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Na liturgia desta festa, proclama-se o Evangelho da Anunciação (Lc 1, 26-38), que apresenta justamente o diálogo entre o anjo Gabriel e a Virgem. "Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!", disse o mensageiro de Deus e, dessa forma, revelou a mais profunda identidade de Maria, o "nome", por assim dizer, com que o próprio Deus a conhece: "cheia de graça". Esta expressão, que é tão familiar para nós desde a infância - pois a pronunciamos cada vez que rezamos a Ave Maria - explica o mistério que celebramos hoje. De fato, Maria, a partir do momento em que foi concebida por seus pais, foi objeto de predileção singular por parte de Deus, quem, em seu desígnio eterno, escolheu-a para ser a mãe de seu Filho feito homem e, portanto, preservada do pecado original. Por esta razão, o anjo se dirige a ela com esse nome, que implicitamente significa: "sempre cheia do amor de Deus", da sua graça.

O mistério da Imaculada Conceição é uma fonte de luz interior, de esperança e consolo. Em meio às provações da vida, especialmente das contradições vividas pelo homem no seu interior e ao seu redor, Maria, Mãe de Cristo, nos diz que a graça é maior do que o pecado, que a misericórdia de Deus é mais forte que o mal e sabe transformá-lo em bem. Infelizmente, todos os dias, nós experimentamos o mal, que se manifesta de muitas maneiras nas relações e nos acontecimentos, mas que tem sua raiz no coração humano, um coração ferido, doente, incapaz de curar a si mesmo. A Sagrada Escritura revela que a fonte de todos os males é a desobediência à vontade de Deus, e que a morte tem dominado porque a liberdade humana tem cedido à tentação do Maligno. Mas Deus não se desanima em seu plano de amor e vida: através de um longo e paciente caminho de reconciliação, preparou a nova e eterna aliança, selada com o sangue de seu Filho, que, para oferecer-se em expiação, "nasceu de mulher" (Gl 4, 4). Esta mulher, Maria, beneficiou-se antecipadamente da morte redentora de seu Filho e, desde a sua concepção, foi preservada do contágio da culpa. Por esta razão, com o seu coração imaculado, Ela nos diz: "Confiai em Jesus, Ele vos salva".

Queridos amigos: hoje à tarde renovarei a tradicional homenagem à Virgem Imaculada, no monumento dedicado a Ela na Praça da Espanha. Com este ato de devoção, eu me faço intérprete do amor dos fiéis de Roma e do mundo inteiro pela Mãe que Cristo nos deu. Confio à sua intercessão as necessidades mais urgentes da Igreja e do mundo. Que Ela nos ajude, acima de tudo, a ter fé em Deus, crer em sua Palavra, sempre recusar o mal e escolher o bem.


(ZENIT.org)

O som do coração


Que você se transforme no mais belo instrumento
Quando vamos a um show, a uma apresentação de uma orquestra sinfônica ou até mesmo quando abraçamos o violão para tocar, nem sempre imaginamos o carinho com que o instrumento pode ter sido feito. Lembro-me da reportagem que fiz sobre o “luthier”, o profissional que fabrica instrumentos de corda de forma artesanal, como no princípio dos tempos musicais.

O homem de uns 50 anos tinha fama de ser o melhor de Campos dos Goitacazes (RJ) nessa arte. E a caminho de sua casa, fiquei me perguntando o que o fazia ser tão bom naquilo que se propôs a fazer. Ao chegar a sua casa tomei um susto. No quintal havia um monte de madeira, que parecia estar ali havia muito tempo. E logo o craque do assunto me explicou que esse era o primeiro passo para se fabricar um bom instrumento. É necessário que a madeira fique exposta ao tempo, na chuva e no sol intenso, no sereno e no vento, para que sofra todas as transformações. Rachar o que precisa rachar, empenar o que precisa empenar, ressecar o que precisa ser ressecado. Só depois de viver as quatro estações do ano, ela estará pronta para ser transformada.

Então vi o carinho com que esse artista se debruçava na madeira, cortando suas rachaduras, tornando plano e reto o que estava torto, lustrando e lubrificando o que estava seco. Os maiores tesouros materiais que este homem tinha eram suas ferramentas (as ferramentas eram os maiores tesouros que este homem tinha em suas mãos). Era com elas que ele transformava a madeira bruta em arte admirável. Era com elas que ele moldava o instrumento. As maiores realizações deste homem eram os instrumentos prontos e lindos de se ver. Violinos, violões, guitarras, baixos, cavaquinhos. Cada um com sua história pessoal com o artesão. Cada um com sua característica sonora. Cada um proporcionando satisfação às mãos de quem toca e aos ouvidos de quem se emociona com os acordes.

Neste dia quero convidá-lo para ser madeira bruta nas mãos do nosso "Luthier Divino". Permita que Ele arranque as rachaduras de seu coração, torne reto e plano o caminho que estava torto e encharque, com a água viva do Espírito Santo, todos os cantos do seu ser que foram ressecados pelas decepções da vida. E que ao ser moldado, você se transforme no mais belo instrumento capaz de alcançar os corações com o som que o Senhor toca em você.

Shalom...
Deus o abençoe!

Morgana Pire

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A cegueira dos homens

Mateus 9,27-31
Ao sair dali, seguiram-no dois cegos, gritando: «Filho de David, tem misericórdia de nós!» Ao chegar a casa, os cegos aproximaram-se dele, e Jesus disse-lhes: «Credes que tenho poder para fazer isso?» Responderam-lhe: «Cremos, Senhor!» Então, tocou-lhes nos olhos, dizendo: «Seja-vos feito segundo a vossa fé.» E os olhos abriram-se-lhes. Jesus advertiu-os em tom severo: «Vede lá, que ninguém o saiba.» Mas eles, saindo, divulgaram a sua fama por toda aquela terra.


Comentário ao Evangelho do dia feito por Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022), monge grego, santo das Igrejas Ortodoxas Hino 53 (a partir da trad. SC 196, pp. 221ss. rev.)


A cegueira dos homens


[Diz Cristo:]
Quando criei Adão, permiti-lhe que Me visse e por isso que ficasse colocado na dignidade dos anjos. [...] Ele via tudo o que Eu havia criado com os seus olhos corpóreos, mas com os da inteligência via o Meu rosto, o rosto do seu Criador. Contemplava a Minha glória e conversava Comigo o tempo todo. Mas quando, transgredindo as Minhas ordens, provou da árvore, ficou cego e caiu na obscuridade da morte. [...]


Mas Eu tive piedade dele e vim lá do alto. Eu, o absolutamente invisível, partilhei a opacidade da carne. Recebendo da carne um começo, tornado homem, fui visto por todos. Por que aceitei fazer isso? Porque esta era a verdadeira razão para ter criado Adão: para Me ver. Quando ele ficou cego e, na sequência dele, todos os seus descendentes, não suportei permanecer na glória divina e abandonar [...] aqueles que criara com as Minhas mãos; mas tornei-Me semelhante em tudo aos homens, corporal com os corporais, e uni-Me a eles voluntariamente. Por aqui podes ver o Meu desejo de ser visto pelos homens. [...] Como podes então dizer que Me escondo de ti, que não Me deixo ver? Na verdade, Eu brilho, mas tu não olhas para Mim.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Construir uma casa


Mateus 7,21.24-27
«Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. «Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína.»


Comentário ao Evangelho do dia feito por Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja Os discursos sobre os salmos, Sl 95, § 4


[O salmista diz:] «O Senhor é grande e muito digno de louvor» (95, 4). Quem é este Senhor senão Jesus Cristo, grande e digno de louvor? Vós sabeis, com certeza, que Ele apareceu como homem; sabeis que foi concebido no seio de uma mulher, que nasceu desse seio, que foi amamentado, levado nos braços, circuncidado, que foi feita uma oferenda por Ele (Lc 2, 24), e que cresceu. Sabeis também que foi coberto de escarros, coroado de espinhos, e crucificado, e que morreu, trespassado pela lança. Vós sabeis que Ele sofreu tudo isso: sim, «Ele é grande e digno de louvor». Acautelai-vos de desprezar a Sua pequenez; compreendei a Sua grandeza. Ele fez-Se pequeno porque vós éreis pequenos: compreendei quão grande Ele é, e sereis grandes com Ele. É assim que se constrói uma casa, assim que se elevam grandes muros numa habitação. As pedras que se trazem para construir este edifício estão aumentando: crescei vós próprios, compreendei como Cristo é grande, como aquele que parece ser pequeno é grande, muito grande. [...]


Que pode dizer a pobre língua humana para louvar quem é tão grande? Dizendo
«muito» grande, ela esforça-se por exprimir o que sente e crê [...], mas é como se dissesse: «O que eu não posso exprimir, tenta tu apreendê-lo pelo pensamento; e contudo sabe que o que tiveres apreendido é muito pouco.» Como poderia ser traduzido por qualquer língua o que ultrapassa todo o pensamento? «Grande é o Senhor e muito digno de louvor!» Que Ele seja portanto louvado, que seja pregado, que a Sua glória seja anunciada, e que a Sua casa seja construída.