sábado, 19 de fevereiro de 2011

Formação - Célio de Moura

De “O canto do Espírito” de Raniero Cantalamessa


Do que nos cura o Espírito Santo?




Mas não nos interessa apenas conhecer a história ou a doutrina sobre as curas, o mais importante é obter a cura. É o que pedimos ao Espírito Santo com a s palavras: “Revigora com teu eterno poder o que em nosso corpo está enfermo”. Em nosso corpo, não só no corpo dos outros. Para esse fim, queremos aludir a alguns tipos principais de “enfermidades” do corpo, na eventualidade que entre elas esteja alguma que reconhecemos como nossa e da qual devemos pedir ao Espírito Santo que nos cure.

Entre as enfermidades, algumas não são absolutamente contraídas por culpa da pessoa: limitações físicas de nascença ou adquiridas, disfunções de alguns dos nossos órgãos, taras hereditárias, traumas derivados de dificuldades nos primeiros anos de vida, talvez até do seio materno; quando não se devem, simplesmente, às circunstâncias da existência e à nossa condição humana.

Outras podem ser, em parte, fruto também de culpa nossa, como as diversas “dependências”: do álcool ou da droga, do fumo, desordens no comer, abusos no campo da sexualidade.

Há doenças cujas raízes estarão no inconsciente e na memória e parecem, então, mais doença da alma que do corpo, mas que influem profundamente também sobre a nossa vida física: medo de morrer, distúrbios oriundos de uma má relação com um pai autoritário ou uma mãe possessiva, complexos diversos, agressividade, insegurança.

Na mesma esteira se situam a não-aceitação de si mesmo ou dos outros: a depressão, o desânimo e a tristeza crônica; rancores, ressentimentos profundamente enraizados.

Uma coisa a qual nos advertem justamente os psicólogos é, afinal, o apego à nossa própria doença. Pode acontecer, com efeito, que uma pessoa acabe encontrando na própria doença, ou neurose, um refúgio, que não seja capaz de conceber a própria vida numa situação diferente nem renunciar à comiseração de que se fez objeto. Jesus perguntou ao paralítico da piscina de Betesda: “Queres ficar curado?” (Jo 5,6). Pergunta aparentemente estranha, mas não tanto...

Quando se trata de doenças psicológicas de raízes profundas, em que se acha comprometida, de certa forma, a liberdade do enfermo, é preciso que o doente colabore com a ação do Espírito Santo, removendo certos obstáculos, sobretudo arrependendo-se e perdoando, se tiver alguma coisa a perdoar. Grande importância assume, nesse terreno, o aproximar-se bem e com fé dos sacramentos. Neles nos é dada a graça, na fé, de tocarmos ainda a “ponta do manto” de Jesus para que Ele nos cure (cf. Mt 9,21): do Corpo Eucarístico de Cristo continua saindo aquela sua “força que curava a todos” (cf. Lc 6,19).

Mas também a Palavra de Deus pode ser um instrumento poderoso de cura. Diz a Escritura a propósito do povo de Deus no deserto: “Não foi erva nenhuma que os curou, nem algum cataplasma, mas sim a Tua palavra, Senhor, que tudo cura” (Sb 16,12).

E quem não fica curado?

E aqueles muitos que, apesar de toda a nossa fé, intensa oração, “liturgias de cura”, não ficam curados? De quem é a culpa?

Alguns respondem: “Porque ele tem pouca fé, ou pela pouca fé daqueles que oram sobre ele. Deus quer curar sempre, a todos; a doença é conseqüência do pecado; é contrária à vontade de Deus...

Mas se fosse assim, seria necessário concluir que muitos santos tinham fé pequena, porque muitas vezes tiveram que sofrer toda a sorte de doenças. A “sã doutrina” da Igreja é que o poder do Espírito Santo não se manifesta só de um modo: eliminando o mal, curando, mas também dando a capacidade e muitas vezes até a alegria de suportar, com Cristo, a enfermidade, “suprindo na própria carne pela Igreja, seu corpo, o que falta às tribulações de Cristo” (cf. Cl 1,24). Cristo remiu o sofrimento e a morte; o sofrimento já não é sinal do pecado e participação na culpa de Adão, mas é instrumento de redenção e participação na vida do Novo Adão.

Não há nada que não possa entrar nesta esfera de valores: nem as mazelas físicas nem os males psíquicos. Cristo assumiu o medo da morte, a angústia. Mesmo as neuroses podem tornar-se uma chance de santificação, caso façam parte de uma bagagem natural não eliminável. As neuroses não pouparam nem mesmo alguns santos; não impediram, porém, que se santificassem! Em caso de doenças desse tipo, a fé e a ação de Espírito Santo se manifestam de outra maneira: dando à pessoa a capacidade de viver a própria doença de modo novo, com mais liberdade no convívio com ela, sem deixar-se esmagar pela doença.

A razão profunda para isso é que Deus, em toda a sua obra, decidiu vencer o mal, não aniquilando-o com a sua onipotência, mas assumindo-o em Cristo, vencendo-o e transformando-o por dentro; “Ele tomou as nossas dores e carregou as nossas enfermidades” (Mt 8,17; Is 53,4)

Temos um luminoso exemplo disso no apóstolo Paulo. Muitas vezes ele pedira ao Senhor que lhe tirasse um “espinho na carne”, mas ouviu esta resposta: “Basta a minha graça, porque é na fraqueza que a força chega à perfeição” (2Cor 12,9).

O apóstolo rompeu então neste grito de fé “Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas. Pois, quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2Cor 12, 9-10). O poder do Espírito Santo diante das enfermidades do nosso corpo se manifesta ainda mais perfeitamente quando nos dá a força para suportar com Cristo o nosso mal, do que curando-nos milagrosamente do mal. São Máximo o Confessor diz que: “a fraqueza da carne no sofrer é fundamento para o magnífico poder do Espírito Santo.

Conclusão, podemos sempre pedir ao Espírito Santo que nos cure. Mas, se Ele não o faz, não somos obrigados a concluir que não temos fé, que Deus não nos ama, que nos castiga, mas só que nos quer dar um dom mais precioso, embora mais difícil de aceitar.

A saúde recuperada, um dia, se perderá de novo, mas o mérito de ter suportado com paciência perdura eternamente.

A coisa mais importante, no Espírito do Evangelho, não é pensar nas próprias enfermidades, mas na do próximo. Os santos aceitavam passar mal, mas não queriam que ninguém sofresse perto deles. Relutavam em pedir a própria cura, mas eram arrojadíssimos em pedir a cura dos outros.

O Evangelho conta como “quatro homens” subiram um dia ao telhado da casa onde Jesus estava, fizeram uma abertura e desceram a maca onde estava o paralítico; em suma, não descansaram enquanto não puseram o amigo doente diante de Jesus e não ouviram esta palavra: “Levanta-te, pega a tua maca, e vai para casa!” (Mc 2,1-14).

Devemos imitar o zelo daqueles quatro homens.

Ser paráclitos

No Evangelho Jesus fala aos discípulos sobre o Espírito usando o termo "Paráclito", que significa consolador, ou defensor, ou as duas coisas. No Antigo Testamento, Deus é o grande consolador de seu povo. Este "Deus da consolação" (Rm 15, 4) se "encarnou" em Jesus Cristo , que se define de fato como o primeiro consolador ou Paráclito (Jo 14, 15). O Espírito Santo, sendo aquele que continua a obra de Cristo e que leva a cumprimento as obras comuns da Trindade, não podia deixar de definir-se, também Ele, Consolador, "o Consolador que estará convosco para sempre", como Jesus o define. A Igreja inteira, depois da Páscoa, teve uma experiência viva e forte do Espírito como consolador, defensor, aliado, nas dificuldades externas e internas, nas perseguições, na vida de cada dia. Nos Atos dos Apóstolos lemos: "A Igreja se edificava e progredia no temor do Senhor e estava cheia da consolação (paráclesis!) do Espírito Santo" (9, 31).

Devemos agora tirar disso uma conseqüência prática para a vida. Temos de nos converter em paráclitos! Ainda que é certo que o cristão deve ser "outro Cristo", é igualmente certo que deve ser "outro Paráclito". O Espírito Santo não só nos consola, mas nos faz capazes de consolar os demais. A consolação verdadeira vem de Deus, que é o "Pai de toda consolação". Vem sobre quem está na aflição; mas não se detém aí; seu objetivo último se alcança quando quem experimentou a consolação se serve dela para consolar por sua vez o próximo, com a mesma consolação com a qual ele foi consolado por Deus. Não se conforma em repetir estéreis palavras de circunstância que deixam as coisas iguais ("Ânimo, não te desalentes; verás que tudo sai bem!"), mas transmite o autêntico "consolo que dão as Escrituras", capaz de "manter viva nossa esperança" (Rm 15, 4). Assim se explicam os milagres que uma simples palavra ou um gesto, em clima de oração, são capazes de fazer à cabeceira de um enfermo. É Deus quem está consolando essa pessoa através de você!

Em certo sentido, o Espírito Santo precisa de nós para ser Paráclito. Ele quer consolar, defender, exortar; mas não tem boca, mãos, olhos para "dar corpo" a seu consolo. Ou melhor, tem nossas mãos, nossos olhos, nossa boca. A frase do Apóstolo aos cristãos de Tessalônica: "Confortai-vos mutuamente" (1Ts 5, 11), literalmente se deveria traduzir: "sede paráclitos uns dos outros". Se a consolação que recebemos do Espírito não passa de nós aos demais, se queremos retê-la de forma egoísta para nós, logo se corrompe. Daí o porquê de uma bela oração atribuída a São Francisco de Assis, que diz: "Que não busque tanto ser consolado como consolar, ser compreendido como compreender, ser amado como amar...".


À luz do que disse, não é difícil descobrir que existem hoje, ao nosso redor, paráclitos. São aqueles que se inclinam sobre os enfermos terminais, sobre os enfermos de aids, quem se preocupa em aliviar a solidão dos anciãos, os voluntários que dedicam seu tempo às visitas nos hospitais. Os que se dedicam às crianças vítimas de abuso de todo tipo, dentro e fora de casa. Terminamos esta reflexão como os primeiros versos da Seqüência de Pentecostes, na qual o Espírito Santo é invocado como o "consolador supremo":"Vinde, ó Pai dos pobres, vinde, autor de todos os dons, vinde, Luz dos corações. Consolador supremo, doce hóspede da alma, suave refrigério. Repouso no trabalho, brandura no ardor, consolo no pranto".


Deus abençoe a todos


Celio

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me"




Marcos 8,34-38.9,1
Chamando a si a multidão, juntamente com os discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Ou que pode o homem dar em troca da sua vida? Pois quem se envergonhar de mim e das minhas palavras entre esta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.»
Disse-lhes também: «Em verdade vos digo que alguns dos aqui presentes não experimentarão a morte sem terem visto o Reino de Deus chegar em todo o seu poder.»




Comentário ao Evangelho do dia feito por Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja Sermão 96, 9 (a partir da trad. Brésard, 2000 ans B, p. 248)



«Segue-Me» (Mt 9, 9)


Neste mundo, quer dizer, na Igreja, que toda ela segue Cristo, Este diz a todos: «Quem quiser vir após Mim, renuncie a si mesmo». Porque esta ordem não se destina às virgens, com exclusão das mulheres casadas; às viúvas, com exclusão das esposas; aos monges, com exclusão dos esposos; aos clérigos, com exclusão dos laicos. É toda a Igreja, todo o Corpo de Cristo, todos os seus membros, diferenciados e repartidos segundo as suas tarefas próprias, que deve seguir Cristo. Que toda ela O siga, ela que é única, ela que é a pomba, ela que é a esposa (Ct 6, 9); que ela O siga, ela que foi resgatada e enriquecida com o sangue do Esposo. A pureza das virgens tem aqui o seu lugar; a continência das viúvas tem aqui o seu lugar; a castidade conjugal tem aqui o seu lugar. [...]


Que sigam Cristo, estes membros que têm o seu lugar, cada um segundo a sua categoria, cada um segundo a sua classificação, cada um à sua maneira. Que renunciem a si mesmos, quer dizer, que não se apoiem em si próprios; que levem a sua cruz, quer dizer, que suportem no mundo, por Cristo, tudo o que o mundo lhes infligir. Que O amem, a Ele, o Único que não desilude, o Único que não está enganado, o Único que não Se engana. Que O amem porque o que Ele promete é verdadeiro. Mas, porque Ele não o dá agora, a fé vacila; pois continua, persevera, suporta, aceita o atraso, e terás levado a tua cruz.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


O mundo visto de Roma


Santa Sé


Ser santo é deixar-se amar por Deus
Papa dedica catequese de hoje a São João da Cruz
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) - O caminho para a união mística com Deus não consiste tanto em "fazer", mas em "deixar-se fazer". Esta é a grande lição de São João da Cruz, cuja obra é um dos cumes da mística cristã de todos os tempos.
O Papa Bento XVI dedicou sua catequese de hoje, na audiência geral realizada na Sala Paulo VI, a este santo espanhol, em sua série dedicada aos doutores da Igreja.

Depois de falar sobre Santa Teresa de Jesus (2 de fevereiro) e São Pedro Canísio (9 de fevereiro), o Papa dedicou a sua intervenção de hoje a São João da Cruz, conhecido como "Doutor místico" e autor de obras místicas universais como "Subida ao Monte Carmelo", "Noite escura da alma", "Cântico Espiritual" e "Chama viva de amor".

No entanto, a vida de São João da Cruz, afirmou o Papa, "não era um ‘voar pelas nuvens místicas'; foi uma vida dura, muito prática e concreta, tanto como reformador da ordem, onde encontrou muitas oposições, quanto como superior provincial, ou na prisão dos seus irmãos na religião, onde foi exposto a insultos incríveis e agressões físicas".

"Foi uma vida dura, mas precisamente nos últimos meses na prisão, ele escreveu uma de suas obras mais belas", explicou.

O caminho com Cristo, prosseguiu o Papa, "não é um peso adicional à carga já bastante difícil da nossa vida; não é algo que tornaria ainda mais pesado este fardo, e sim algo completamente diferente, é uma luz, uma força que nos ajuda a carregar esse peso".

"Se um homem tem em si um grande amor, este amor quase lhe dá asas, e então suporta mais facilmente todos os aborrecimentos da vida, porque carrega dentro de si esta grande luz; esta é a fé: ser amado por Deus e deixar-se amar por Deus em Cristo Jesus."

"Esse deixar-se amar é a luz que nos ajuda a carregar o peso de cada dia. E a santidade não é obra nossa, muito difícil, mas é precisamente esta ‘abertura': abrir as janelas da nossa alma para que a luz de Deus possa entrar", sublinhou o Papa.

A cruz de São João

Este santo espanhol, contemporâneo e amigo espiritual de Santa Teresa de Jesus, colaborou com ela na reforma da Ordem do Carmelo, sofrendo por isso grandes privações e penalidades.

O Papa percorreu brevemente sua biografia, desde sua infância pobre e difícil até seu ingresso no Carmelo, sua ordenação sacerdotal e seu encontro com Teresa de Ávila, que transformaria o curso da sua vida.

"O jovem padre ficou fascinado pelas ideias de Teresa, chegando a se tornar um grande apoio para o projeto" de reforma do Carmelo, afirmou.

No entanto, "a adesão à reforma carmelita não foi fácil e custou a João inclusive graves sofrimentos. O episódio mais dramático foi, em 1577, sua captura e reclusão no convento dos Carmelitas da Antiga Observância de Toledo, devido a uma acusação injusta".

Depois de seis meses de prisão em duras condições, e de conseguir fugir repentinamente, São João foi destinado aos conventos de Andaluzia. Lá, em Úbeda (Jaén), faleceu dez anos mais tarde.

De suas quatro grandes obras místicas, o Papa destacou os ensinamentos do santo sobre o caminho de purificação que a alma deve percorrer até sua união mística com Deus.

Esta purificação "é proposta como um caminho que o homem empreende, em colaboração com a ação divina, para libertar a alma de todo apego ou afeto contrário à vontade de Deus".

"De acordo com João da Cruz, tudo o que existe, criado por Deus, é bom. Através das criaturas, podemos chegar à descoberta d'Aquele que deixou nelas seu selo", explicou.

No entanto, qualquer coisa criada "não é nada comparada com Deus e nada vale fora d'Ele; por conseguinte, para alcançar o amor perfeito de Deus, qualquer outro amor deve ser conformado, em Cristo, ao amor divino".

Por isso, esta "purificação, sublinhou Bento XVI, "não é mera ausência física de coisas ou de sua utilização; o que torna a alma pura e livre, na verdade, é eliminar toda a dependência desordenada das coisas. Tudo deve ser colocado em Deus como centro e fim da vida".

Neste sentido, acrescentou o Papa, este processo de purificação "exige esforço pessoal, mas o verdadeiro protagonista é Deus: tudo que o homem pode fazer é "dispor-se" para estar aberto à ação divina e não colocar obstáculos a ela".

O esforço humano, prosseguiu, "por si só é incapaz de chegar às raízes profundas das más inclinações e maus costumes da pessoa: pode freá-las, mas não desenraizá-las totalmente.".

"Para fazê-lo, é necessária a ação especial de Deus, que purifica radicalmente o espírito e o dispõe para a união de amor com Ele", afirmou o Pontífice. "Neste estado, a alma está sujeita a todo tipo de provas, como se estivesse em uma noite escura."

"Quando se alcança este objetivo, a alma mergulha na própria vida trinitária, de forma que São João diz que esta chega a amar a Deus com o mesmo amor com que Ele ama, porque a ama no Espírito Santo."

Os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens


Marcos 8,27-33
Jesus partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» Disseram-lhe: «João Batista; outros, Elias; e outros, que és um dos profetas.» «E vós, quem dizeis que Eu sou?» perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra, e disse: «Tu és o Messias.» Ordenou-lhes, então, que não dissessem isto a ninguém. Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias. E dizia claramente estas coisas. Pedro, desviando-se com Ele um pouco, começou a repreendê-lo. Mas Jesus, voltando-se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo-lhe: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens.»


Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia e depois Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, n° 54

«Os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens.»

Pedro considera os sofrimentos e a morte de Cristo de um ponto de vista puramente natural e humano, e esta morte parece-lhe indigna de Deus, vergonhosa para a Sua glória. Cristo repreende-o e parece dizer-lhe: «Não, o sofrimento e a morte não são indignos de Mim. As ideias mundanas baralham e confundem a tua capacidade de ajuizar. Afasta essas ideias humanas; ouve as Minhas palavras do ponto de vista dos desígnios do meu Pai, e compreenderás que esta morte é a única que convém à Minha glória. Julgas que é uma vergonha para Mim sofrer? Pois quero que saibas que é vontade do diabo que Eu não cumpra assim o plano da salvação.» [...]


Que ninguém core devido aos sinais da nossa salvação, que são tão dignos de veneração e de adoração; a cruz de Cristo é a fonte de todo o bem. E através dela que nós vivemos, que somos regenerados e salvos. Carreguemos a cruz como uma coroa de glória. Ela põe a sua marca em tudo o que nos conduz à salvação: quando somos regenerados pelas águas do baptismo, a cruz lá está; quando nos aproximamos do altar para receber o Corpo e o Sangue do Salvador, lá está; quando impomos as mãos sobre os eleitos do Senhor, lá está. O que quer que façamos, ela aparece, como sinal de vitória para nós. Eis a razão porque a pomos nas nossas casas, nas nossas paredes, nas nossas portas; porque fazemos esse sinal na testa e no peito; porque a trazemos no coração. Pois ela é o símbolo da nossa redenção e da nossa libertação, e da misericórdia infinita de Nosso Senhor.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

"Não entres no Povoado"


Marcos 8,22-26
Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse. Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?» Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.» Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez. Jesus mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»



Comentário ao Evangelho do dia feito por São Jerónimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, Doutor da Igreja Homilias sobre o Evangelho de Marcos, n°8, 235 (a partir da trad. SC 494, p. 143)

«Abre os meus olhos [...] às maravilhas da Tua lei» [Sl 119 (118), 18]

Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou-lhe: «Vês alguma coisa?» O conhecimento é sempre progressivo. [...] Só à custa de muito tempo e de uma longa aprendizagem é que podemos atingir um conhecimento perfeito. Primeiro
saem as sujidades, a cegueira desaparece, e é assim que vem a luz. A saliva do Senhor é um ensinamento perfeito; para ensinar de forma perfeita, ela provém da boca do Senhor; a saliva do Senhor provém, por assim dizer, da Sua substância, e o conhecimento, sendo a palavra que provém da Sua boca, é um remédio. [...]


«Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar»; ainda vejo sombras, ainda não vejo a verdade. Eis o sentido desta palavra: vejo qualquer coisa na Lei, mas ainda não tenho a percepção da luminosidade radiosa do Evangelho. [...] «Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; [...] e distinguia tudo com nitidez». Via, digo eu, tudo o que nós vemos: via o mistério da Trindade, via todos os mistérios sagrados que estão no Evangelho. [...] Nós também os vemos, porque acreditamos em Cristo, que é a verdadeira luz.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Não vedes? Ainda não compreendeis?


Marcos 8,14-21
Os discípulos tinham-se esquecido de levar pães e só traziam um pão no barco. Jesus começou a avisá-los, dizendo: «Olhai: tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes.»
E eles discorriam entre si: «Não temos pão.» Mas Ele, percebendo-o, disse: «Porque estais a discorrer que não tendes pão? Ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido? Tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis? E não vos lembrais de quantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães para aqueles cinco mil?» Responderam: «Doze.» «E quando parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de bocados recolhestes?» Responderam: «Sete.» Disse-lhes então: «Ainda não compreendeis?»



Comentário ao Evangelho do dia feito por São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja A Subida ao Monte Carmelo, II, 3 (a partir da trad. OC, Cerf 1990, p. 637 rev.)




«Não vedes? Ainda não compreendeis?»

Dizem os teólogos que a fé é um hábito da alma ao mesmo tempo seguro e obscuro. E é obscuro porque nos propõe verdades reveladas sobre o próprio Deus que ultrapassam qualquer luz natural e excedem toda a compreensão humana, seja ela qual for. Daí decorre que a luz excessiva dada pela fé se transforma para a alma em profundas trevas. Como sabemos, qualquer força superior supera e enfraquece uma que lhe seja inferior; desse modo, o sol eclipsa todas as luzes restantes, ao ponto de, quando ele resplandece, todas as outras não parecerem propriamente luzes. Para além do mais, quando está no zénite, o seu brilho ultrapassa por completo a nossa capacidade visual até nos ofuscar em vez de nos fazer ver, devido a tornar-se excessivo e desproporcionado à nossa visão. O mesmo se passa com a luz da fé, que pelo seu prodigioso excesso abate e enfraquece a luz do intelecto.


Tomemos outro exemplo: suponhamos uma pessoa cega de nascença que, por isso mesmo, não conhece as cores. Ao esforçarmo-nos por fazer-lhe compreender o branco ou o amarelo, bem podemos dar explicação atrás de explicação que ela não retirará delas qualquer conhecimento directo, porque nunca viu as cores, cujo nome será a única coisa que ela reterá no espírito, através do ouvido. O mesmo se passa com a fé em relação à alma: a fé diz-nos coisas que nunca vimos nem conhecemos e a respeito das quais não possuímos a mais pequena réstia de conhecimento natural, mas retemo-las através do ouvido, crendo no que nos é ensinado e ofuscando em nós a luz natural. Com efeito, como nos diz São Paulo, «a fé surge da pregação» (Rom 10, 17). É como se ele nos dissesse: a fé não é uma ciência que reconhecemos pelos sentidos, mas um consentimento da alma que entra em nós pelo ouvido. Torna-se então evidente que a fé é para a alma uma noite escuríssima, mas é precisamente com a sua escuridão que ela ilumina: quanto mais a mergulha nas trevas, mais lhe faz brilhar a sua luz. Assim sendo, é ofuscando que ela alumia, segundo as palavras de Isaías: «se não acreditardes, não compreendereis» (7, 9).

Perfil do nosso músico e amigo

Sidney Costa de Souza

Nascido em 25 de novembro de 1986, em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro começou a ter influencias musicais forte quando seu pai, Ruy de Souza, decidiu aprender violão em 1994, pois tinha vontade de ajudar nas missas em sua comunidade, pois não tinham músicos.
Em 1996, estava na terceira série quando, no dia das crianças, ganhou de sua professora uma flauta doce de brinquedo e, desde então começou a tirar notas de ouvido do instrumento. Com ajuda do professor de violão de seu pai, ele foi aprendendo outras novidades e, assim, foi aguçando sua aptidão musical. No ano seguinte, entrou pra aula de flauta. No mesmo ano, começou a ajudar o pai nas missas em sua comunidade.
O tempo foi passando e Sidney foi tendo mais facilidade em outros instrumentos como violão, teclado, bateria, um pouco de guitarra e foi ampliando seu universo musical. Começou a tocar em casamentos, bares, festas de formaturas... e assim foi lapidando melhor o seu dom musical.
Tocou por 4 anos na banda versículos, que servia na Paróquia Nossa Senhora do Desterro, em Campo Grande, onde era baterista. Servia também em varias comunidades da mesma paróquia, tocando nas missas.
Por conta do trabalho, se afastou da igreja por 2 anos. Quando em dezembro de 2008 foi chamado a formar o Ministério Deus Proverá, onde começou tocando bateria e cantando nas missas, servindo na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, também em Campo Grande e é onde está até hoje.