sábado, 4 de setembro de 2010

O Filho do Homem é Senhor do sábado


Lucas 6,1-5
Num dia de sábado, passando Jesus através das searas, os seus discípulos puseram-se a arrancar e a comer espigas, desfazendo-as com as mãos. Alguns fariseus disseram: «Porque fazeis o que não é permitido fazer ao sábado?» Jesus respondeu: «Não lestes o que fez David, quando teve fome, ele e os seus companheiros? Como entrou na casa de Deus e, tomando os pães da oferenda, comeu e deu aos seus companheiros esses pães que só aos sacerdotes era permitido comer?» E acrescentou: «O Filho do Homem é Senhor do sábado.»

Comentário ao Evangelho do dia feito por Catecismo da Igreja Católica, §§ 2168-2173

«O Filho do Homem é Senhor do sábado»

O terceiro mandamento do Decálogo refere-se à santificação do sábado: «O sétimo dia é um sábado: um descanso completo consagrado ao Senhor» (Ex 31, 15).A Escritura faz, a este propósito, memória da criação: «Porque em seis dias o Senhor fez o céu e a terra, o mar e tudo o que nele se encontra, mas ao sétimo dia descansou. Eis porque o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou» (Ex 20, 11).A Escritura vê também, no dia do Senhor, o memorial da libertação de Israel da escravidão do Egipto: «Recorda-te de que foste escravo no país do Egipto, de onde o Senhor, teu Deus, te fez sair com mão forte e braço poderoso. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado» (Dt 5, 15).Deus confiou a Israel o sábado, para ele o guardar em sinal da Aliança inviolável (83). O sábado é para o Senhor, santamente reservado ao louvor de Deus, da Sua obra criadora e das Suas acções salvíficas a favor de Israel. [...]O Evangelho relata numerosos incidentes em que Jesus é acusado de violar a lei do sábado. Mas Jesus nunca viola a santidade deste dia. É com autoridade que Ele dá a Sua interpretação autêntica desta lei: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado» (Mc 2, 27). Cheio de compaixão, Cristo autoriza-Se, em dia de sábado, a fazer o bem em vez do mal, a salvar uma vida antes que perdê-la (Mc 3, 4). O sábado é o dia do Senhor das misericórdias e da honra de Deus. «O Filho do Homem é Senhor do próprio sábado» (Mc 2, 28).

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Esposo está com eles

Lucas 5,33-39
Disseram-lhe eles: «Os discípulos de João jejuam frequentemente e recitam orações; o mesmo fazem também os dos fariseus. Os teus, porém, comem e bebem!» Jesus respondeu-lhes: «Podeis vós fazer jejuar os companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? Virão dias em que o Esposo lhes será tirado; então, nesses dias, hão-de jejuar.» Disse-lhes também esta parábola: «Ninguém recorta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha; aliás, irá estragar-se a roupa nova, e também à roupa velha não se ajustará bem o remendo que vem da nova. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho novo rompe os odres e derrama-se, e os odres ficarão perdidos. Mas deve deitar-se vinho novo em odres novos. E ninguém, depois de ter bebido o velho, quer do novo, pois diz: 'O velho é que é bom!'»


Comentário ao Evangelho do dia feito por São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n.º 84 (a partir da trad. de Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, Médiaspaul, 1988, t. 6, p.158)



«O Esposo está com eles»


Que a alma disto se lembre: foi o Esposo Quem, primeiro, a procurou e Quem, primeiro, a amou; tal é a fonte da sua própria procura e do seu próprio amor [...].


«Procurei, diz a Esposa [do Cântico dos Cânticos], Aquele Que o meu coração ama» (3, 1). Sim, é de facto a esta procura que te convida a ternura dAquele que, antes de ti, te procurou e te amou. Não O procurarias, se primeiro Ele não te tivesse procurado; não O amarias, se primeiro Ele não te tivesse amado.


O Esposo não Se antecipou numa só benção, mas em duas: no amor e na procura. O amor é a causa da Sua procura; a procura é o fruto do Seu amor, e dele é também penhor assegurado. És amada por Ele, de maneira que não podes lamentar-te por não seres realmente amada. A dupla experiência da Sua ternura encheu-te de audácia: aniquilou-te as vergonhas, persuadiu-te a voltares para Ele, deu força ao teu entusiasmo. Daí o fervor, daí o ardor em «procurares Aquele que o teu coração ama», pois é evidente que não terias podido procurá-lO, se primeiro Ele não te tivesse procurado; e agora que Ele te procura, não podes deixar de O procurar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

«Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens»


Lucas 5,1-11
Encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta dele a multidão para escutar a palavra de Deus, Jesus viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles e lavavam as redes. Entrou num dos barcos, que era de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca.» Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.» Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. Ao ver isto, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» Ele e todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham feito; o mesmo acontecera a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus.


Comentário ao Evangelho do dia feito por Ludolfo de Saxe (c. 1300-1378), dominicano e depois cartuxo em Estrasburgo A vida de Jesus Cristo, I, cap. 29, 9-11 (a partir da trad. Orval)


«Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens»

Pedro lançou-se com humildade aos pés de Jesus. Reconhece n'Ele o seu Senhor e diz-Lhe: «Afasta-Te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador e não sou digno de estar na Tua presença. Afasta-Te de mim, porque sou apenas um homem e Tu és o Homem-Deus, sou pecador e Tu és santo, sou um servo e Tu és o Senhor. Que uma distância Te separe de mm, que estou separado de Ti pela fragilidade da minha natureza, a fealdade dos meus pecados e a fraqueza da minha vontade. [...]»


Mas o Senhor consola Pedro mostrando-lhe que a captura dos peixes significa que ele será pescador de homens. «Não temas, diz-lhe, não te assustes; crê e regozija-te, pois estás destinado a uma pesca muito maior; ser-te-ão dados outro barco e outras redes. Até agora tens pescado peixes com redes, doravante será pela palavra que pescarás homens. Através da santa doutrina atrai-los-ás para o caminho da salvação, pois foste chamado ao serviço da pregação. A palavra de Deus é semelhante ao anzol do pescador. Do mesmo modo que o anzol só pesca o peixe depois de lhe ter tocado, também a palavra de Deus só prende o homem para a vida eterna depois de lhe ter penetrado no espírito. Doravante serás pescador de homens. Doravante significa que, depois do que se passou, depois de teres dado provas de humildade, serás encarregado de pescar homens; pois a humildade possui um poder de atracção e, para alguém dirigir os outros, é bom que não saiba não enaltecer o poder que lhe foi dado.»

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SUBA COMIGO - PARA OS QUE VIVEM EM COMUNIDADE

Dica de Livro
SUBA COMIGO IGNACIO LARRANAGA

Este livro foi escrito para todos os que vivem em comunidades, tanto os religiosos quanto os leigos. Ele mostra que a espiritualidade é a afirmação da necessidade de sermos solidários.

Retirou-Se para um lugar solitário

Lucas 4,38-44
Deixando a sinagoga, Jesus entrou em casa de Simão. A sogra de Simão estava com muita febre, e intercederam junto dele em seu favor. Inclinando-se sobre ela, ordenou à febre e esta deixou-a; ela erguendo-se, começou imediatamente a servi-los. Ao pôr-do-sol, todos quantos tinham doentes, com diversas enfermidades, levavam-lhos; e Ele, impondo as mãos a cada um deles, curava-os. Também de muitos saíam demónios, que gritavam e diziam: «Tu és o Filho de Deus!» Mas Ele repreendia-os e não os deixava falar, porque sabiam que Ele era o Messias. Ao romper do dia, saiu e retirou-se para um lugar solitário. As multidões procuravam-no e, ao chegarem junto dele, tentavam retê-lo, para que não se afastasse delas. Mas Ele disse-lhes: «Tenho de anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado.» E pregava nas sinagogas da Judeia.


Comentário ao Evangelho do dia feito por Cardeal Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI)Retiro pregado no Vaticano, 1983 (a partir da trad. Le Ressuscité, DDB 1986, p.10)


«Retirou-Se para um lugar solitário.»

O deserto é o lugar do silêncio e da solidão, onde a pessoa se distancia do quotidiano, onde escapa ao ruído e à superficialidade. O deserto é o lugar do absoluto, o lugar da liberdade, onde o homem se confronta com as suas necessidades mais radicais. Não foi por acaso que o monoteísmo nasceu no deserto. Neste sentido, trata-se do domínio da graça; vazio de preocupações, é no deserto que o homem encontra Deus.As grandes coisas começam no deserto, no silêncio, na pobreza. Nem sequer poderíamos participar na missão do Evangelho sem entrarmos nesta experiência do deserto, do seu despojamento, da sua fome; a fome bem-aventurada de que o Senhor fala no Sermão da Montanha (Mt 5, 6) não nasce da saciedade dos fartos.E não esqueçamos que o deserto de Jesus não termina com os quarenta dias que se seguiram ao baptismo. O Seu último deserto será o do Salmo 21: «Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?» Será deste deserto que brotarão as águas da vida do mundo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cumpriu-se hoje

Lucas 4,16-30
Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.» Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.»
Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de José?» Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: 'Médico, cura-te a ti mesmo.' Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.» Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.» Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu-o seu caminho.


Comentário ao Evangelho do dia feito por João Paulo II Carta apostólica «Novo Millenio Inuente», § 4 (trad. © Libreria Editrice Vaticana)

«Cumpriu-se hoje»

«Graças Te damos, Senhor, Deus Todo-poderoso» (Ap 11, 17). [...] Penso, antes de mais, na dimensão do louvor. Realmente é daqui que parte toda a autêntica resposta de fé à revelação de Deus em Cristo. O cristianismo é graça, é a surpresa de um Deus que, não satisfeito com criar o mundo e o homem, saiu ao encontro da Sua criatura e, depois de ter falado muitas vezes e de diversos modos pelos profetas, «falou-nos agora, nestes últimos tempos, pelo Filho» (Heb 1, 1-2). Agora! Sim, o Jubileu fez-nos sentir que passaram dois mil anos de história sem se atenuar a pujança daquele «hoje» referido pelos anjos, quando anunciaram aos pastores o acontecimento maravilhoso do nascimento de Jesus em Belém: «Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, Senhor» (Lc 2, 11). Passaram dois mil anos, mas permanece viva como nunca a proclamação que Jesus fez da Sua missão aos conterrâneos na sinagoga de Nazaré, deixando-os atónitos ao aplicar a Si próprio a profecia de Isaías: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir» (Lc 4, 21). Passaram dois mil anos, mas volta sempre, cheio de consolação para os pecadores necessitados de misericórdia — e quem não o é? –, aquele «hoje» da salvação que, na Cruz, abriu as portas do Reino de Deus ao ladrão arrependido: «Em verdade te digo: hoje estarás Comigo no Paraíso» (Lc 23, 43).