quarta-feira, 31 de março de 2010

A BOMBA NO SACRÁRIO - Padre Zezinho



Estive, a convite, na abertura dos 50 anos da martirizada e marcante diocese de Nova Iguaçu. Fiz questão de ir. Cantei cantos de cruz, de dor e de esperança. Não será possível escrever a História da Igreja do Brasil das últimas décadas sem falar das igrejas da Baixada Fluminense: entre elas Volta Redonda e Nova Iguaçu, com destaque para Dom Adriano Hipólito e Dom Waldir Calheiros. Não esquecemos os outros bispos, que também os reverenciam. Mas o destaque é para falar de um momento de martírios.

É uma pena que jovens de agora não saibam do que ali aconteceu. Talvez nem mesmo seus catequistas o sabiam. Mas ali se viveu um dos pedaços cruciais da História do Catolicismo no Brasil. O bispo seqüestrado, deixado nu e amarrado à beira da estrada, o corpo pintado de vermelho, pichações nos muros, o carro do bispo explodido à frente da sede da CNBB, uma bomba que explodiu o altar e o sacrário revelaram o grau de ódio e desprezo que aqueles militantes da ditadura nutriam pela Igreja e pela fé católica. Fizeram o mesmo contra Dom Helder Câmara, Dom Paulo Arns e Dom Pedro Casaldáliga. Foram tempos de ir à rua, marchar em silêncio e em lágrimas numa diocese que nascia e já pagava um alto preço por ter escolhido por a ênfase no social e no resgate dos pobres, em região que hoje cresce e promete, mas que, então era dormitório do Rio de Janeiro e onde os pobres eram cada dia mais encurralados num processo de guetização.

Uma Igreja inteira organizou-se. Concordem ou não com sua pastoral, era uma igreja que seguia os documentos do Vaticano II, do Celam e da CNBB. Nada foi inventado ali. O que houve foi a coragem de por em prática o que estava no papel.

O filme dos 50 anos é uma lição de eclesialidade e de humildade. Não se citam nomes, não se pede vingança, não se busca revanche, apenas se lembra o que houve, as dores, o medo, a coragem e a resistência daqueles dias. Há perdão em cada relato, mas há verdade em cada frase. Bispos e padres, irmãs e leigos pagaram alto preço por quererem uma Igreja que ia ao povo lembrar que democracia é melhor do que ditadura. Estavam tão ocupados em ser igreja que não tinham tempo de ser nem de direita nem de esquerda, mas levaram a pecha de uma guerrilha e um terrorismo que nunca fizeram. Havia, sim, uma igreja de comunidades, uma das experiências pioneiras da nossa Igreja; certamente não a única, mas experiência altamente revelante. Em Nova Iguaçu, como de resto em muitas outras dioceses a pastoral saiu do papel e aconteceu.

E foi lá que explodiram Jesus...literalmente. Foi o jeito ateu de mostrar desprezo por uma Igreja que prezava os mais pobres e queria mais democracia. Cinqüenta anos depois, cheia de perdão ela floresce. Quem fez aquelas barbaridades caiu no esquecimento. De heróis não tinham nada. Oura vez venceu a Igreja que perdoa!


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