sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?



Lucas 12,54-59

Dizia também às multidões: «Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: 'Vem lá a chuva'; e assim sucede. E quando sopra o vento sul, dizeis: 'Vai haver muito calor'; e assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?» «Porque não julgais por vós mesmos, o que é justo? Por isso, quando fores com o teu adversário ao magistrado, procura resolver o assunto no caminho, não vá ele entregar-te ao juiz, o juiz entregar-te ao oficial de justiça e o oficial de justiça meter-te na prisão. Digo-te que não sairás de lá, antes de pagares até ao último centavo.»




Comentário ao Evangelho do dia feito por Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja Sermão 109; PL 38,636 (a partir da trad. de Delhougne, Les Pères commentent, p. 15)


«Como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?»

Acabámos de escutar o evangelho em que Jesus critica aqueles que, sabendo reconhecer o aspecto do céu, não eram capazes de reconhecer o tempo em que urgia crer no Reino dos Céus. Era aos judeus que Ele o dizia, mas essa palavra também se dirige a nós. Ora, o próprio Senhor Jesus Cristo começou assim a Sua pregação: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu» (Mt 4, 17). João Baptista, o percursor começara da mesma forma: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu» (Mt 3, 2). E agora o Senhor acusa-os de não se quererem converter, visto que o Reino dos Céus está próximo. [...]


Só Deus sabe quando será o fim do mundo: seja quando for, o tempo de fé é hoje. [...] Para cada um de nós, o tempo está próximo, porque somos mortais. Caminhamos no meio de perigos. Se fôssemos de vidro, receá-los-íamos menos. O que pode ser mais frágil do que um recipiente de vidro? No entanto, conservamo-lo e dura séculos, porque tememos que caia mas não tememos que envelheça ou que seja atacado pela febre. Somos, pois, mais frágeis e mais fracos e essa fragilidade faz-nos recear em cada dia todos os acidentes que são constantes na vida dos homens. E se não houver acidentes, continua a existir o tempo que avança. O homem evita os choques; poderá evitar a sua última hora? Ele evita o que vem do exterior; poderá extirpar o que nasce no seu interior? Por vezes, é subitamente dominado por uma doença. E, mesmo que tenha sido poupado toda a vida, quando a velhice por fim chega, não há adiamento possível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário